Em que você pensa ao ouvir sobre “arte negra” ou “arte afro-brasileira”? Pensa em África, onças e elefantes ou em tribos de caçadores? Ou em baianas, escolas de samba e capoeira? Ou, ainda, em Ludmilla, Anitta e Preta Gil?
Novembro é o mês da Consciência Negra (20/11), o que nos pede para refletir sobre a presença negra em todas as áreas: as artes entre elas. Se você não refletiu ainda sobre os artistas negros e sobre a arte afro-brasileira, este é o momento! Mas o que são as artes negra e afro-brasileira? Elas são a mesma coisa?
Descubra neste post tudo o que você precisa para não passar o mês da Consciência Negra em branco! Siga conosco nesta leitura!
A princípio, é só uma nomenclatura; porém, quando paramos para pensar o que ela significa, é comum surgirem dúvidas como: arte negra é aquela produzida por pessoas negras? Arte afro-brasileira é o mesmo de africana? E o que é negro ou afro-brasileiro na nossa arte?
Vamos por partes. Primeiro, arte negra e arte afro-brasileira são usados como sinônimos. Apesar de às vezes estarem em contextos diferentes, em geral representam o mesmo – a arte produzida por pessoas que vivenciam a realidade da população negra brasileira. Logo, a conexão com a África não é tão óbvia como se pensa.
Respondemos uma outra pergunta com isso: nem sempre a arte negra é produzida por pessoas negras. O que faz sentido quando pensamos na dimensão da cultura afro-brasileira: da música às artes visuais, ela passa por todas as linguagens artísticas, além da sua dimensão histórica, religiosa e filosófica. Além, é claro, da realidade de desigualdade social que atinge diretamente a população negra.
Agora entendemos um pouco melhor o que é a arte negra afro-brasileira; vamos então entender do que ela trata a seguir – confira melhor abaixo!
Música de Baden Powell e Vinícios de Morais canta sobre religiosidade africana.
Um senso comum sobre a arte negra nós já afastamos: ela não é obrigatoriamente sobre a África. Todavia, a herança africana dos povos escravizados e a africanidade atual na nossa cultura estão frequentemente presentes nas suas expressões. Exemplo disso são as menções à teologia do Candomblé no samba, como nos Afro-sambas de Baden Powell e Vinícios de Morais.
A religiosidade afro-brasileira, como o já citado Candomblé e a Umbanda, influencia artistas também pela sua ritualidade e estética. Assim, manifestações artísticas tradicionais, com o Congado, o Maracatu e os variados tipos de samba, absorveram muito da sua musicalidade e ritmo. Até a dança contemporânea participa desse movimento, em grupos como o Grupo Corpo.
Musicalidade, ritmo e dança são carros-chefes que estão presentes também na Capoeira e no Axé. O Centro Cultural Lamparina, projeto socioeducativo do mestre capoeirista Negoativo, usa deles para acessar a ancestralidade afro-brasileira. É assim que ele mantém e desenvolve tradições que dialogam com a realidade contemporânea da sua comunidade.
Afinal, para além da sua rica tradição religiosa, a cultura afro-brasileira também se desenvolve a partir da realidade material do povo negro. Infelizmente, a realidade socioeconômica da população negra é a mais desfavorecida, com um longo histórico de abusos e injustiças. Isso não foge à sua arte.
Vamos ver abaixo como a injustiça social, entre racismo e concentração de renda, afeta a arte negra. Continue a leitura!
Estigmatizada desde a colonização, a população negra jamais deixou de produzir uma parte significativa da cultura brasileira. Mesmo alguns clássicos nacionais, como o Barroco, foi produção de pessoas negras – no caso, o Aleijadinho e o mestre Valentim. Todavia, durante um longo período a cultura afro-brasileira foi vista com preconceito.
Parte disso é devido às próprias injustiças cometidas contra a população negra. Um exemplo é a perseguição e proibição do Candomblé e da Capoeira, que só acabou oficialmente nos meados do século XX. O motivo, em resumo, era a própria pobreza dessa população, que se entendia “causa e reflexo” da cultura – tão diferente da “erudição europeia” cultivada entre os brancos ricos.
Na contemporaneidade, estilos musicais e visuais ainda passam pela mesma estrada de opressão. Particularmente, o funk e a cultura hip hop são testemunhas disso. Relatos da realidade vivida pelos seus autores, muitos de favelas, esses gêneros expressam via letra e ritmo os sofrimentos e as soluções desenvolvidas em meio às mazelas.
A fala livre que declama ou denuncia sua realidade é a base de vários gêneros que improvisam. E as melhores improvisações se enfrentam no Duelo de MC’s, trampolim na carreira do Kdu dos Anjos. No Lá da Favelinha, Centro Cultural no aglomerado da Serra, ele transmite sua arte – junto de professores de passinho, capoeira e muito mais.
Você deve ter percebido que, de negros escravizados, passamos a falar de passinho e hip-hop. A razão disso é que a Consciência Negra não é restrita ao passado ou ao estereótipo – ainda que figuras consolidadas, como Zumbi de Palmares, tenham importância atemporal.
A consciência negra se faz presente no dia a dia, ao reconhecermos que toda nossa cultura é afro-brasileira. Afinal de contas, a cultura não é algo estanque, parado: ela se combina e cresce junto. A segregação é um erro do passado, que nele deve ficar – para ser substituído hoje pela democracia racial.
O hibridismo da nossa cultura se vê nas galerias, no rádio e até nos muros – o grafite, parte da cultura do hip hop, é a ilustração perfeita disso. Entre outras coisas, ele é reconhecido por mostrar a realidade da população negra e as injustiças da sociedade. Mas também por reacender a tradição, como nos grafites da Criola – grafiteira que participa da residência do Edifício Almeida.
Seja buscando artistas negros, seja percebendo a negritude da nossa cultura como um todo, o mês da Consciência Negra nos pede esse exercício. Por isso, busque conhecer esse universo cultural para além dos estereótipos – e se permita mergulhar na sua riqueza!
Apoie o Centro Cultural Lamparina e o Centro Cultural Lá da Favelinha e participe desses movimentos que regeneram a sociedade através da arte negra – tradicional ou contemporânea, igualmente viva e bela!
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