Ir ao cinema é um prazer que começa uma hora antes da sessão e termina umas tantas horas depois dela. A verdade é que em tempos de uma sociedade digitalizada como a nossa, ver filme é algo que pode, quase sempre, ser uma atividade caseira. Ah, mas o prazer de ir ao cinema é diferente. Ver um filme em casa é quase como ler um livro mal diagramado ou caindo aos pedaços: dá pra fazer, mas poderia ser tão melhor…!
Eu digo que o prazer de ir ao cinema começa antes porque o sinto já no ônibus. Sentado ao lado da janela (abro um parênteses para compartilhar minha dificuldade de entender pessoas que preferem sentar no assento do corredor) vou observado o fluxo da cidade. Há quem esteja voltando pra casa, há quem esteja indo trabalhar, há quem esteja indo ao supermercado. E eu, do alto de minha liberdade, me dando o presente de ir ao cinema. Ah, como a vida pode ser leve…
A conversa da fila do ingresso me agrada muito também. É mais baixa, dotada de um certo tom de ansiedade (os olhos sempre atentos à fila que anda. Será que vai dar tempo?) e de papos de saudade. “Como tá no trabalho?”, “E o namoro, firme?”, “A viagem foi tão boa!”. Amigo de cinema é amigo que faz falta. “Quanto tempo! Vamos marcar um cinema?”.
O entrar na sala de exibição é um ato que me encanta em todas as suas etapas. Achar o lugar indicado, pedir licença para passar, certificar que o companheiro está enxergando bem. Gosto, particularmente, de olhar em volta. Ficar afetado pela alegria da vó que brinca com a netinha na fileira da frente, imaginar como o casal de trás se encontrou, perder-me pensando como seria se convidasse aquele senhor sozinho a sentar-se conosco. Mas a tela dá a dica de que o filme vai começar: todos fazem silêncio, guardam os celular e se rearranjam na poltrona. É chegada a hora!
Créditos finais. O filme acabou. No corredor da saída, vamos em silêncio, absorvendo tudo. Mas já é noite?! Mas se há alguns minutos não estávamos num almoço em Paris? Saio tão envolvido naquela realidade que a minha vontade é de convidar todos da sessão para uma cerveja. Afinal, eles deveriam mesmo não ter ficado juntos no final? É preciso discutir isso!
Ao fim do programa, um abraço no amigo. “Adorei nosso programa hoje!”. E vão andando os dois, dando saltinhos pela rua como a personagem, planejando a viagem que o casal principal realizou, querendo arriscar tudo como fizeram no filme. Ir ao cinema é roubar um pouco dos personagens pra gente, dá um tom cinematográfico da vida, vontade de, pelos menos por alguns minutos, mudar totalmente o roteiro que escrevemos pra nós mesmos.
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