As artes visuais começam a fazer parte da nossa vida desde muito cedo, seja como forma de cultura, diversão ou estudo, não é? Mas quantas das obras que você conhece são feitas por artistas negros? É sobre isso que o Descolonizarte fala!
Descolonizarte é uma portal de divulgação de artistas racializados de diferentes lugares do mundo, o projeto apresenta diversos tópicos ao público referentes a arte produzida no terceiro mundo com o objetivo de criar novos imaginários estéticos e artísticos.
O propósito do projeto.
Muito além dos grandes nomes da arte negra, o projeto também trabalha com criadores atuais do cotidiano, sempre os colocando como referência.
Um exemplo disto é o artista visual Maxwell Alexandre, responsável pelas ilustrações do álbum do rapper BK’.
O álbum intitulado “Gigantes” lançado pelo artista no ano de 2018 foi inteiramente ilustrado pelo artista visual.
O projeto coloca em referência vários outros artistas, entre eles estão Brendon Reis, Nina Satie e Mayara Amaral. Além dos trabalhos de cada artista, o projeto coloca em foco suas vivências, experiências e processos criativos.
Descolonizarte e a Evoé!
Para conhecer mais a fundo o projeto, conversamos com a Bárbara Alves, criadora e fundadora do Descolonizarte, ela nos contou mais sobre o processo de criação do projeto, suas inspirações e razões.
EVOE.CC –Se apresenta pra gente? Conta um pouco sobre você e suas pesquisas pessoais?
Bárbara Alves – Meu nome é Bárbara Alves, tenho 22 anos e atualmente, moro em Cajamar/SP. Sou jornalista e pesquiso artistas visuais contemporâneos africanos e afrodiaspóricos.
EVOE.CC – Me conta um pouco da história do Descolonizarte? O que é? Como surgiu?
Bárbara Alves – O Descolonizarte surgiu em 2019, logo após eu visitar a exposição Histórias Afro – Atlânticas, que ficou em cartaz no MASP e no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Eu fiquei bem impressionada com as obras de tantos artistas negros, que eu nunca havia ouvido falar. Foi um choque e nesse período, como eu trabalhava ao lado do MASP, visitava a exposição todas às terças, dia em que a entrada é de graça. Então consegui estudar, analisar melhor as obras, e me questionar sobre o porquê daquelas obras terem demorado tanto para entrar em contato comigo. Quando a exposição se encerrou, eu continuei pesquisando e me aprofundando nessa temática e conheci vários outros artistas, muitos inclusive pelo Instagram. Em meados de 2019, tomei coragem e fundei o Descolonizarte. No início, eu falava sobre artes visuais, literatura e cinema, mas percebi que precisava direcionar melhor a minha abordagem e por conta do meu histórico, optei por falar sobre artes visuais. Já em outubro, percebi que também era importante escrever sobre as histórias dos artistas que eu entrava em contato aqui no Brasil e desse pensamento nasceu o site com as entrevistas e reportagens.
Explicando mais sobre o projeto!
EVOE.CC – O que é arte e pensamento decolonial?
Bárbara Alves – O pensamento decolonial surgiu a partir do questionamento sobre a influência do colonialismo na estruturação da sociedade e da hegemonia predominante. Ele vem também dos processos de lutas de independência dos países africanos e questiona o papel dos países colonizadores na estruturação da sociedade. Há várias direções desse pensamento contestador: descolonial, decolonial, anti-colonial, pós-colonial, contra-colonial. O que me chama atenção nesses discursos é a centralidade do debate na vivência dos indivíduos que sofreram com os processos e com as consequências da formação de sociedades que tiveram a colonialidade como vetor principal. A arte é uma manifestação intelectual das subjetividades dos indivíduos. Para mim, é fundamental pautar a arte por meio desse viés racial para retomar a humanidade retirada durante o processo de colonização. É um exercício decolonial.
EVOE.CC – Desde o início do seu projeto, qual foi o momento de maior impacto?
Bárbara Alves – Foi a reportagem “Do Punk do ABC às pinturas tela: Robinho Santana”. Esse texto foi o primeiro a ser publicado no site e a recepção do público foi muito positiva. Fiquei feliz demais com esse retorno e em poder escrever sobre o Robinho com tanta sensibilidade e responsabilidade. A qualidade da produção também mostrou para as pessoas o padrão de excelência que eu busco no meu trabalho. Tenho um grande carinho por esse material.
EVOE.CC – Quais foram as suas maiores dificuldades até o momento com o seu projeto?
Bárbara Alves – A pandemia. Eu comecei a escrever no site na virada de 2019 para 2020, e logo após foi decretado o distanciamento social e todo esse caos pandêmico que estamos enfrentando. A minha meta era escrever 1 reportagem e 2 entrevistas por mês, além de explorar outros gêneros de escrita. Mas com o decorrer dos dias, foi ficando cada vez mais difícil, ainda mais tendo que conciliar com um emprego CLT e todo o contexto brasileiro.
O crescimento da arte e o futuro da arte no Brasil.
EVOE.CC – Para você, qual o peso de hoje alcançar tantas pessoas através de seus trabalhos e o que isso significa para você?
Bárbara Alves – Eu acho sensacional. É muito bom poder mostrar outras referências para as pessoas e sensibilizá-las por meio da arte. Me vejo no papel de construir pontes entre o público que gosta de artes visuais e anseia por referências racializadas; e os artistas que estão produzindo esses trabalhos. É uma verdadeira honra poder promover esses encontros.
EVOE.CC – Como você vê o futuro da arte no Brasil? E principalmente da curadoria em arte.
Bárbara Alves – Esse debate vem ganhando cada vez mais espaço e o futuro está aqui. Cada dia que se passa, fica mais evidente que o modelo de sociedade em que vivemos está fracassado e vai ruir. Precisamos de novos horizontes, novas perspectivas, e no mundo da arte não é diferente. O futuro está nos curadores racializades, em propostas artísticas novas, em novos nomes dentro desse cenário.
Criadores, referências e o futuro do Descolonizarte.
EVOE.CC – Quais são referências de coletivos e criadores que te inspiram? Tem recomendações de filmes ou livros para uma imersão no tema?
Bárbara Alves–HOA, 0101, Projeto Afro, OMenelick2Ato, Afrovisualism, Polartics, AddisFineArt. São projetos que também pautam arte e racialidade e eu me inspiro muito na movimentação feita por essas pessoas. Outra coisa que eu acho importante de salientar é que a maioria desses projetos citados são liderados por mulheres, o que também me inspira bastante. Sobre materiais, eu gosto muito da pesquisa de doutorado da Renata Felinto intitulada “A construção da identidade afrodescendente por meio das artes visuais contemporâneas: estudos de produções e de poéticas”.
EVOE.CC – Qual sua ambição quanto ao projeto? O que você quer para o futuro dele?
Bárbara Alves – Hoje em dia, o Descolonizarte é uma equipe. Ela foi formada no início deste ano e uma das metas principais é poder remunerar cada uma das pessoas envolvidas, e também poder me dedicar 100% do meu tempo a ele. Tirando isso, também quero lançar materiais como revista impressa, podcast e alcançar cada vez mais pessoas. O Descolonizarte é uma das coisas mais importantes que eu fiz na minha vida até agora e eu estou bem feliz com os retornos gerados até aqui. Só espero que tudo continue fluindo.
Vem conhecer o Descolonizarte!
Pra conhecer mais sobre o projeto você pode conferir o site do projeto e também suas redes.
Por fim, para conferir de perto os conteúdos incríveis aqui da Evoé, fica de olho no nosso novo Instagram! @evoe.cc
Publicado por Mariana Almeida
Graduanda em Letras pela UFMG, sempre gostou de linguagens e edição textual. Mariana além de apaixonada por literatura e arte, também ama estudar outras culturas e línguas. Na @evoe.cc Mariana é responsável pela Comunicação e Marketing
@thisblueneighbour