Tivemos o prazer de conversar com a colagista, multiartista e poeta mineira, Lara de Paula. Nessa conversa descobrimos mais sobre quem é a Lara por trás da artista e como funcionou o processo criativo do seu mais novo livro, Nuvilíneas ! Vem conferir!
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Eu sou a Lara de Paula, sou escritora de paixão e agora de profissão também, mas sou formada em Antropologia, atualmente sou doutoranda em Antropologia com habilitação em Arqueologia pela UFMG. Eu gosto de quebra-cabeças, de coisas fofas, de girassol e coisas amarelas. Eu sou setelagoana, então vim pra Belo Horizonte para poder ir para a Universidade, desde então estou morando aqui, já fazem 8 anos que estou em BH!
Das minhas aspirações e coisas que acredito enquanto mulher negra, tem sido gerar material dentro e fora da academia, para que, de alguma forma eu possa contribuir com as lutas coletivas dos universos nos quais eu estou inserida.
Dentro da universidade eu questiono sobre a inserção de pessoas negras, dentro do campo de arqueologia no Brasil, a gente tem mais arqueólogas do que arqueólogos, mas sempre estudamos os homens. E do lado de forma, eu propus o conceito de “arqueopoesia” como uma junção desses dois universos que me atravessam mais e que, eu tenho me dedicado mais, que é a escrita poética e a arte-multiartista. Eu gosto muito da arte, é uma forma que encontrei de curar minhas feridas ancestrais e pessoais, mas que também dá vazão para a minha alegria. O meu foco maior são nas colagens e na escrita, então a arqueopoesia traz muito sobre a escrita e arte, mas as colagens também têm muita relação com a arqueologia, todas as minhas profissões dizem respeito a contação de histórias e na materialidade, porque essas histórias estão relacionadas com algumas coisas. O livro tem muito disso, por isso a proposta artesanal, eu enxergo muita poética no cotidiano, nas coisas mais simplórias e que cabem nele a apreciação.
Cajila significa “aquilo que traz boa sorte” e é uma palavra que além de linda, também, conta com a inicial das três pessoas que estão à frente do projeto, tivemos esse cuidado de pegar uma palavra afro-brasileira e cheia de significados. É um coletivo de mulheres negras, nós somos um trio; Eu, Juliana Tolentino e Andreza Xavier. Nós nos reunimos porque queríamos partilhar da nossa poesia, construir coisas com outras mulheres negras e antes da poesia, nós havíamos pensado em expandir para além produções individuais, então realmente criar peças artísticas em conjunto.
Foi por isso que o Cajila foi criado, ele partiu de uma amizade formada pelo “Preta Poeta” (um projeto de difusão da literatura feminina negra) e existia muita saudade de encontrar outras pessoas e ficar conversando, trocando, falando poesia.
Por conta da relação das nossas produções e narrativas, nós criamos o Cajila, fizemos sarau, participamos de eventos e criamos muitas coisas bacanas. Estamos paradas na pandemia, mas pretendemos retornar em momentos mais concretos. No entanto, o Cajila segue sendo muito importante porque a gente sabe que algumas ideias e projetos que a potência deles é coletiva.
A vestígios começou como uma das estratégias pensadas em conjunto com assessoria, mas foi algo que eu pensei a partir de duas lives anteriores que eu havia feito, que eram lives-poesia, em que eu declamava algumas poesias minhas e aí depois de um tempo passei a incluir poesia de outras pessoas e deu um resultado muito legal, muitas pessoas interessadas. Isso começou no início do ano, já estávamos em isolamento que não permitia que a gente fizesse muita coisa, foi uma forma que encontrei de interagir e até dar notícias para os meus amigos, eu sou o tipo de amiga tímida que às vezes demora meses para responder.
A vestígios veio pra mim como um respiro e aí, eu comecei a selecionar temas, poesias que eu gosto, poesias autorais e tudo com uma temática exclusiva para aquela live. Esse é um espaço que é utilizado para priorizar a divulgação de materiais de pessoas que estão fazendo literatura independente, em sua maioria negras, transexuais, indígenas e ao longo do tempo fui tendo a possibilidade de convidar pessoas que admiro para trocar referências e processos.
Pra mim são sempre momentos ótimos e com uma grande camada de cura por pensar que a forma que estou vendo a literatura brasileira e como ela me atravessa, também é similar a de outras pessoas criativas.
Outra coisa que percebi foi que as lives serviram como um laboratório de percepção das mídias sociais, antes eu nunca havia feito lives, não sou uma pessoa muito tecnológica e fui aprendendo ao mesmo tempo que fui fazendo. Partindo disso eu fui vendo o impacto das redes, entendendo como elas funcionam e já estamos indo pro final da segunda temporada de lives. É algo que quero continuar fazendo, me agrega em três âmbitos, no pessoal como respiro, na divulgação de literatura independente e marginal e no aprendizado das redes.
Essa é uma pergunta frequente, a verdade é que Lara não dá conta! Lara está surtando, Lara precisa de uma substituta e não sabe se chega viva até a sexta feira. Mas na realidade, o que me faz dar conta de tudo, é a minha rede de apoio, minha equipe de assessores (coisas que foram possibilitadas pelo edital da Aldir Blanc) e com muita terapia. O que eu tento fazer é manter uma organização mínima e geral para não me perder no tempo. A minha cabeça já não guarda muitas coisas, então eu uso um planner em que eu anoto tudo nos inícios dos meses, uso agenda e um checklist de atividades diárias e pra mim funciona super bem!
E ah, DESCANSO!
Então, estava no início da quarentena, eu estava na casa da minha mãe e passei alguns meses lá. Eu cheguei em um ponto onde absolutamente NADA estava bom, já tinhamos passado pelo assassinato do George Floyd, só notícia ruim, a minha vida totalmente parada por conta da pandemia, meus estudos de poesia marginal estagnados, porque nada funcionava, eu estava desolada. Só que chega em um nível que você cansa de não fazer nada, isso te causa uma dor tão grande que você precisa melhorar.
Nesse meio tempo eu já havia visto algumas pessoas fazendo cartas pra si, sobre como elas esperavam que as coisas iriam estar em um tempo depois, mas eu não me interessei muito. Por isso comecei a procurar coisas que fizessem mais sentido pra mim, comecei a sistematizar algumas coisas e fiz isso com concursos literários que estavam acontecendo, foi nesse momento que comecei a me aventurar nos concursos.
Paralelo a isso, eu comecei a pensar no que eu poderia fazer para mim, e eu não queria que isso fosse postado nas minhas redes pessoais, afinal, seria meio chato postar sobre minhas questões pessoais com algumas pessoas e situações.
Nisso eu decidi criar uma outra conta, a “Uma Gota por Dia” em que eu postava esses relatos cotidianos, era ótimo porque eu gozava de um anonimato, ninguém sabia quem era eu, todo mundo que lia aquilo era porque gostavam e não por ser escrita minha. Foi ali que pessoas de vários lugares do Brasil me seguiram puramente por gostar de poesia. Era uma coisa bem simples, mas que fui fazendo enquanto eu tive fôlego, fiz cerca de 170 títulos. Basicamente eu sempre gostei de escrever, mas sabia que precisava desenvolver outros tipos de escrita, para além dos textos acadêmicos, foi aí que resolvi me dedicar ao trampo de escritora que sempre desejei, pude arriscar na experimentação, escrita livre, criatividade e tudo mais.
Dentro dessa loucura dos concursos estava o da Aldir Blanc e eu precisava de um livro, eu não queria um livro só de poesias trabalhadas e que eu já havia declamado, além disso eu já sabia que se eu precisasse publicar um livro, não poderia ser algo que eu não gostava e que não me satisfazia. Eu tinha um desejo muito grande em que o meu primeiro livro fosse, de fato, as minhas poesias. O material que eu já tinha pronto e que poderiam formar algo bonito e concreto era justamente o “Uma gota por dia”, essa escrita livre e diária. Eu submeti, achei que eu não ia passar, acabei passando e pensei: “eita, agora eu tenho que fazer um livro”.
Então assim, ele não surgiu como um livro, não houve todo aquele preparo esperado, mas foi ótimo porque eu pude aprender sobre todos os processos do livro durante a execução dele. O contato com a editora me fez entender a complexidade de fazer um livro, além disso foi o que me fez estruturar o Nuvílineas como ele é hoje. O meu processo foi de ter que fazer um livro e não de planejar fazer um livro, mas no fim das contas, o produto é muito melhor do que eu imaginei no início, é um livro muito honesto, a escrita é crua, o que eu fiz foi uma seleção das escritas.
Pra mim é sempre muito engraçado ler coisas que eu escrevi, eu acho uma coisa muito curiosa, esquisita e estranha, eu gosto de criar uma distância de tempo entre minhas escritas, provavelmente eu consigo ter essa sensação diferente das coisas. Mas ultimamente eu estive passando por tantas apresentações do meu trabalho, tão cheia de compromissos e eu precisava não ficar doida, por isso eu criava diálogo comigo mesma através de áudios no Telegram, era uma forma de criar esse processo diário também. Eu acreditava que seria algo incrível se eu conseguisse registrar todo esse processo, porque isso iria gerar material para outras possíveis coisas no futuro, mesmo que fosse só um arquivo no meu computador.
E quando eu me retorno a eles, eu também consigo me retornar às sensações, ao que eu estava pensando e sentindo naquele momento e isso é muito gostoso! Sobretudo nos dias bons, é quase como uma cápsula de alegria. Tem alguns textos que eu me esqueço dele, (não agora porque eu já sei recitar o Nuvílineas), mas na primeira impressão, na primeira organização do livro, quando eu finalmente li o livro todo de uma vez, eu fiquei totalmente orgulhosa, eu pensei: “ó, o trem ficou bão mesmo”!
O Nuvílineas não é a minha melhor escrita, porque ela foi uma escrita despretensiosa, mas sem dúvidas é um livro muito bom e isso acalenta meu coração. E o mais legal é que hoje quando eu leio, eu leio como outra pessoa, tem sido gostoso ser leitora, eu quase nunca retorno nos meus textos, e esse livro me trouxe essa experiência. Sempre digo que mesmo se eu não vendesse nenhum livro, seria uma satisfação imensa em ter criado o Nuvílineas.
Tudo novo, nas coletâneas eu não me preocupava com quase nada, eu mandava o texto, ele era aprovado e eu revisava, era basicamente isso. Todo o resto era terceirizado. Te confesso que ainda não caiu a ficha completamente, porque como eu tô num ambiente frenético, eu ainda não tive um respiro e às vezes eu ando na rua e escrevo que tenho um livro publicado. Mas é tudo diferente, tem eu em tudo, sei como o livro é dobrado, cortado, impresso, escolhi todos os papéis, a diagramação, enfim.. tudo.
Eu tinha como fazer por uma editora e não ter trabalho, o financiamento da Aldir Blanc me permitia, mas eu quis participar, é meu primeiro livro solo e já sabendo que não era meu melhor texto, eu queria dar toda a minha atenção. Eu também sabia que em contratos maiores, a possibilidade de eu fazer tudo do meu jeito era quase nula, por isso quis investir nisso, o que foi ótimo porque eu aprendi muito, fazer um livro é uma parada muito foda e que eu não sabia como era. A Cristiane Sobral cita uma pesquisa que nos diz que apenas 25% das publicações atuais são de autoria feminina e que menos de 4% de mulheres negras, pessoas como eu não sabem NADA sobre o processo de um livro, eu tive que procurar pessoas para me ajudar.
O processo do Nuvílineas é muito demorado e muito coletivo, porque eu precisava aprender sobre o mercado editorial, marketing e afins, mas eu fiz questão de aprender tudo e também tive interesse.
Não foi a minha primeira opção, além disso foi uma das últimas coisas decididas, eu não estava pensando em como vender e esse processo demorou um pouco pra mim, eu demorei a decidir as coisas. A primeira coisa que eu fiz foi usar meu ascendente em capricórnio e olhar as porcentagens que cada possibilidade de venda me tiraria, embora a porcentagem fosse um pouco maior, eu decidi quando olhei o custo-benefício.
A ideia de financiar pela Evoé foi dada pela minha assessora, a Mari e, em seguida, ela me mandou uma campanha que estava na plataforma. Antes eu achava que fazer pela plataforma era muito mais difícil do que fazer individualmente, eu sou uma pessoa de conexões caóticas, eu quase não respondo ninguém, aí quando eu refleti sobre o impacto disso em uma venda.. aí foi quando conversei com o Izaú, esse criador que estava vendendo os livros pela Evoé. Uma das coisas que ele me disse é que queria ter vendido tudo na plataforma, falou que a equipe era super atenciosa e criativa e eu fui percebendo que sozinha eu não ia dar conta.
Além disso, eu sabia que as coisas que eu estava fazendo até então estavam sendo muito mais eficazes na coletividade, isso foi algo que me atentou. Não tinha forma de ser mais coletivo do que em um Financiamento Coletivo, não é só uma compra, é ser parte de uma comunidade. A plataforma me ajuda a encontrar um meio termo entre a Lara que quer vender e a Lara artista.
Thiago Guimarães – @orathiago
Andreza Xavier – @2zpoesia
Jazz Orimauá – @menino_jazz
Mel Duarte – @melduartepoesia
Cristiane Sobral – @cristianesobralartista
Conceição Evaristo – @conceicaoevaristooficial
Elisa Lucinda – @elisalucinda
Oluwa Seyi Salles Bento – @o.l.u.w.a
Itamar Vieira Junior – @itamarvieirajr
SE ORGANIZE, tenha fôlego porque é possível. O Financiamento Coletivo é sobre esforço e estratégias!
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