Falar sobre os projetos incríveis que estão saindo do papel ao redor de todo o país é super importante, e por aqui na Evoé temos o privilégio de conversar e conhecer projetos que se desenvolvem e crescem junto com a gente! Hoje iremos apresentar um deck de tarô incrível para vocês!
Nossa conversa com a cartomancista Patrícia Rosendo, e com o multiartista Pedro Índio Negro sobre o projeto intitulado “Tarô Nordestino” nos trouxe inspirações incríveis e também muito conhecimento sobre a cultura nordestina!
Vem conferir o nosso bate-papo!
Conhecendo os idealizadores do Tarô Nordestino!
Patrícia A. Rosendo: Eu sou Patrícia Rosendo, sou sertaneja, do sertão da Paraíba, atuo profissionalmente como cartomante, mas também sou pesquisadora da taromancia. Terminei meu mestrado no final de 2021 e sou formada em Comunicação Social e Mestra em Ciências das Religiões, com pesquisa em Taromancia. Tenho 37 anos e atualmente moro em João Pessoa/PB.
Pedro Índio Negro: Meu nome é Pedro Índio Negro, sou músico, ilustrador, moro em João Pessoa/PB, também sou formado em Canto pela Federal da Paraíba e acho que é isso, isso resume um pouco dos meus caminhos.
Procuramos saber um pouco mais sobre a construção do “Tarô Nordestino”, sobre os elementos e referências que construíram a ideia, os pontos de partida e, claro, como se deu a realização disto.
Pedro Índio Negro: É um projeto que eu desenvolvi em 2016, já era uma ideia antiga, mas eu só consegui desenvolver em 2016, porque antes disso eu estava focado no meu curso de canto. Mas lá em 2016, uma época em que eu estava estudando Comunicação e Mídias Digitais, e tive que elaborar uma ideia e desenvolvê-la, e então eu tive uma ideia de fazer um baralho de tarô, só que imitando a xilogravura, apesar de ser digitalmente. Os focos principais da ideia eram: tentar simular os efeitos da xilogravura no photoshop e relacionar as cartas com personagem da cultura nordestina. Na época eu fiz apenas 22 cartas, apesar de um tarô ter 78, essas 22 representavam os arcanos maiores. Por fim eu apresentei esse trabalho, postei na internet, e uma garota lá do Maranhão me entrevistou para falar do trabalho, eu abri um pouco sobre a criação e em pouco tempo tivemos muitos acessos, muita gente queria comprar, queria ele no modelo físico, e na época era só um trabalho da faculdade.
Evoé: E de onde veio a ideia de financiar e produzir?
Pedro Índio Negro: Pouco tempo depois da apresentação do projeto eu completei as 78 cartas do baralho, como muita gente já queria comprá-lo, eu fiz uma campanha de financiamento coletivo ainda naquela época, mas eu estava sozinho, muita coisa estava acontecendo e acabou não batendo a meta, e aí deixei para lá. Foi no fim do ano passado que resolvi acordar essa ideia e estruturá-la direito, a gente (Patrícia e eu) até tentou um edital, mas não passamos, e aí investimos no financiamento coletivo novamente, e dessa vez deu certo!
Como aconteceu o processo de trabalho e construção entre vocês dois?
Patrícia A. Rosendo: Quando eu conheci o Pedro ele já tinha o baralho, então não houve um processo criativo entre nós dois, o que realmente aconteceu foi que no processo de revisão do projeto, na construção dos elementos para o financiamento, aí tivemos esse momento de troca, de avaliação e considerações.
Evoé: O projeto de vocês dialoga muito com um resgate cultural, a utilização dos elementos que constroem a cultura. De onde veio a possibilidade de trabalhar esses elementos?
Pedro Índio Negro: Como eu sou nordestino, meus pais são da cultura, eu sempre estive envolvido nesse universo, durante a minha vida inteira. Todo o meu trabalho tem relação com a expressão da cultura popular nordestina e também afro-brasileira. Mas a ideia do tarô mesmo, veio de muito antes de entender isso, o meu primeiro contato com um tarô foi aos oito anos de idade, enquanto eu jogava um vídeo-game e umas cartas de tarô apareciam e eu me encantei com o visual, eu fiquei interessado. É importante falar que eu sempre fui uma criança muito interessada no misticismo, uma vez eu assisti uma série chamada “A Pedra do Reino”, que é de uma obra de Ariano Suassuna, e aí um personagem chave dessa série é a morte, e minha cabeça fez uma ligação automática entre a representação nordestina da morte com a carta de tarô, eu até fiz um desenho aos 12 anos dessa representação, e naquela época eu ganhei um livro de xilogravura também, e eu juntei as três coisas na minha cabeça até utilizar em 2016.
A relação entre o misticismo e a arte.
Evoé: Depois de colocar um projeto como este no mundo, como é que vocês enxergam essa relação entre a arte e o misticismo? Como foi trabalhar com estes elementos?
Patrícia A. Rosendo: Tem tudo a ver, né? O misticismo em si é muito pautado na arte, para qualquer lado do misticismo que você for você vai encontrar arte, nem que seja algo mais abstrato ou “viajosa” do mundo. A arte também não só no visual, o misticismo carrega musicalidade, as espiritualidades no geral, não existe espiritualidade sem música ou sem algum tipo de arte, seja um objeto ou até mesmo na arte de manipular odores, cores e muitas coisas mais.
“O misticismo é todo impregnado de arte e arte, ao longo da história também é impregnada de misticismo.”
Patrícia A. Rosendo
Pedro Índio Negro: Como a espiritualidade se dá no campo das ideias, a gente precisa, talvez, para conseguir se comunicar com as pessoas, apresentar isso de uma forma visual ou material. Então como tudo que vem da arte, vem da ideia e muito do nosso campo das ideias vem disso, de tentar compreender o que a gente não conhece, de tentar se proteger e a espiritualidade é tudo isso: união, congregação, tentativas de explicar coisas, é isso aí!
Patrícia A. Rosendo: E o tarô, bem antes da cartomancia e da adivinhação ou aconselhamento, ele é arte, ele não nasce para a adivinhação, ele nasce para o entretenimento da corte medieval. O início dele era como uma espécie de xilogravura, mas ele não era no papel, era feito na madeira, depois se tornou artesanalmente feito no papel, mas era destinado aos reis, feito para quem tinha dinheiro e também feito para tirar o tédio. Depois da tecnologia de impressão, aí sim ele começou a se popularizar e chegar em mais gente, mas somente por volta de dois séculos depois, é que uma galera que encontrou o tarô e começou a trazer um simbolismo esotérico. Antes de tudo ele é arte!
A conexão com a rede de apoiadores e a importância temática e cultural.
Evoé: Para vocês, qual foi a resposta da comunidade de apoiadores em relação ao projeto? E vocês sentem que a simbologia e o misticismo acerca do tema também foi uma chave para conseguir apoios?
Pedro Índio Negro: Eu acho que o produto em si é muito interessante, até pela falta de opção de produto semelhante. É normal ter uma ideia, se sentir um gênio que pensou em algo novo e, no fim, isso já existir, mas no meu caso eu pesquisei por tudo que parecia meu projeto e eu achei dois decks de tarô brasileiros, mas um não era com foco em xilogravura e o outro tava incompleto. Depois dessa pesquisa eu pensei em como poderia pegar os erros de outros projetos e transformar em acertos na minha criação, aí eu consegui fazer o projeto completo e com qualidade. Eu acredito que um produto em si, quando ele é interessante, já temos meio caminho andado, mas também tem o fato de que quando fiz um financiamento coletivo em 2016, eu já tinha gerado expectativa num público. Quando eu anunciei essa campanha atual, eu fiz um trabalho de rede bacana, que o próprio Gustavo da Evoé ajudou, eu já mobilizei pessoas que estavam no radar desde aquela época, a pré-produção cativa muito e vira bem coletivo mesmo.
Patrícia A. Rosendo: Eu entrei com muitos contatos, por ser taróloga eu acabo conheço muitas outras pessoas da área, e então juntamos esse público que o Pedro já tinha, com essa parte que eu trouxe, e do lado de cá, entre os tarólogos, o pessoal ficou muito animado, parecia ter gente esperando por esse trabalho e nem sabia, mas assim, a comunidade de tarólogos ficou super interessada.
Evoé: E como foi essa experiência de fazer um financiamento coletivo bem sucedido? De ver as pessoas engajando com expectativa de fazer acontecer, etc.
Patrícia A. Rosendo: Foi uma experiência ótima, eu gostei muito, mas é tenso. Mesmo que você acredite no projeto, é um projeto que requer empenho e dedicação, tem que se preocupar com a divulgação, e foi uma experiência de trabalhar. Por mais que o trabalho fosse recompensador, é um esforço grande. No meu lugar, de pessoa não empresária, de não ser um produto meu, enquanto nordestina e taróloga, eu fiquei feliz de ver acontecer, foi como se eu plantasse algo para que eu futuramente colhesse.
Pedro Índio Negro: Foi um trabalho bem de formiguinha mesmo, porque uma coisa é quando algo viraliza e você corre para se adaptar, mas neste caso a gente teve que reacender a animação do público com o projeto. A gente acordava, mandava mensagem pra várias pessoas, era um trabalho meio de vendedor e de blogueiro, apesar de não ser bom em nenhuma das duas coisas, acabou dando super certo.
Evoé: E depois dessa experiência, qual foram as maiores dificuldades e as maiores realizações desta campanha?
Patrícia A. Rosendo: Sem dúvida duas coisas foram mais difíceis, uma delas é manter o ritmo de atuação dentro da campanha, isso porque é algo que precisa ser consistente, a gente precisa estar produzindo conteúdo e comunicação quase que diariamente mesmo. Acho que isso é um ponto ainda mais crucial quando alguém não é produtor de conteúdo, como é o nosso caso. A outra parte difícil pra mim é a comunicação com os apoiadores, afinal, depois que você arrecada o valor, precisa existir comunicação com os apoiadores, sabe? A gente precisa conversar com cada um, não dá pra confiar no copia e cola, é preciso de atenção, é massante. A própria Evoé sempre reforçou a importância desse contato personalizado com quem nos apoia, então nós seguimos, mas é difícil.
Patrícia A. Rosendo: Em contrapartida, a parte boa pra mim foi quando li os feedbacks: “ah eu tô sentindo daqui a energia”, “tô super animado”, ver a valorização do produto e da ideia em si. Ver que a ideia já era tão querida e tão esperada dava um gás para que a gente fizesse acontecer, era uma coisa de querer e gostar muito do que estava sendo produzido.
Evo´e: E existe alguma dica que vocês dariam para quem acompanhou o projeto de vocês ou gostaria de fazer financiamento coletivo?
Pedro Índio Negro: É importante ter uma ideia em que você acredite, num financiamento coletivo você vende uma ideia, então o segredo é fazer com que as pessoas acreditem na sua ideia tanto quanto você. Para mim é mais emocional do que mercadológico.
Patrícia A. Rosendo: Além de ser algo que você acredita e se conectar, o segredo é trabalhar e se empanhar, não importa a ideia. Inclusive a Evoé foi um norte para nós, dá trabalho, mas vocês nos deram o caminho das pedras.
Se você chegou até aqui, talvez você tenha se interessado em financiar seu trabalho ou quer entender mais sobre o financiamento coletivo. Pra saber mais é só ir até a Evoé.
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Publicado por Mariana Almeida
Graduanda em Letras pela UFMG, sempre gostou de linguagens e edição textual. Mariana além de apaixonada por literatura e arte, também ama estudar outras culturas e línguas. Na @evoe.cc Mariana é responsável pela Comunicação e Marketing
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