Janeiro é o mês da visibilidade trans, sendo esse um período que soma o significado do dia 29 de janeiro. Essa data surgiu pois no ano 2004, no dia 29/01, mulheres e homens trans e travestis foram a Brasília lançar a campanha “Travesti e Respeito” para promover a cidadania e o respeito entre as pessoas.
O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Por isso, ser trans e travesti, ainda mais no Brasil, é ser resistência.
Portanto, é possível enxergar que essa data existe para construir espaços de visibilidade trans e para as pautas ligadas a transexualidade. Mas é muito importante pensar que a construção dessa visibilidade precisa estar ligada a possibilidades.
De acordo com o IBGE a estimativa de vida da comunidade trans no Brasil é de 35 anos, enquanto dos demais ultrapassa os 75.
Visto isso, é preciso entender qual a qualidade de vida dessas pessoas, quando elas conseguem sobreviver. O índice de empregos e escolaridade de pessoas transexuais é muito abaixo da média e nós precisamos falar sobre isso.
Projetos que fazem a diferença!
Embora a celebração ao mês da visibilidade trans ocorra em janeiro, é mais que necessário debater e realizar ações em prol da causa trans e travesti todos os dias.
Isso é o que projetos como os que vamos mostrar fazem! Tivemos entrevistas com dos projetos incríveis e que fazem parte da rede da Evoé, TransVest e Casa Aurora. Vem conhecer mais!
E ah, ainda vamos indicar outros projetos incríveis que nos enchem de orgulho. Bora?
A Transvest é um projeto que objetiva combater a transfobia e incluir travestis, transexuais e transgêneros na sociedade.
Em uma conversa com a coordenação da Ong, representada por Patrícia Oliveira @patriciasoliveira85 e Luísa Reiff @luisareiff, nós conhecemos um pouco mais sobre o funcionamento da Transvest e a importância do trabalho realizado pelo projeto.
A Tranvest, ONG idealizada pela professora de Literatura e atual vereadora, Duda Salabert, surgiu há 5 anos atrás com o intuito de promover um cursinho popular para travestis e transexuais em Belo Horizonte – MG.
Com o passar do tempo a coordenação do projeto percebeu que precisavam ir além da inclusão pedagógica, oferecendo também, inclusão cultural.
Evoé: A inclusão é um ponto muito importante para ser trabalhado, porque muitas vezes os espaços de convivência não são inclusivos para pessoas fora da normatividade cis. Com o objetivo de mudar isso, quais as atividades realizadas pela Transvest?
Transvest: A inclusão pedagógica e cultural são os nossos primeiros passos, mas também trabalhamos com a profissionalização das pessoas que fazem parte do projeto. Hoje nós oferecemos atendimento psicológico, oficinas profissionalizantes e de entretenimento e no período de pandemia, a renda mínima.
Evoé: Sobre a renda mínima trans, como isso funciona, quantas pessoas são atendidas e de onde surgiu essa demanda?
Transvest: Antes de mais nada, mais de 90% da população trans e travesti do Brasil possuem sua única fonte de renda da prostituição. Com a pandemia, essas pessoas perderam essa renda, por isso criamos a Renda Mínima Trans, que atende por volta de 150 pessoas. Basicamente, mulheres trans até 35 anos de idade recebem R$100,00 reais e após 35 anos (que é a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil) recebe R$200,00.
Como fazer parte do projeto?
Evoé: Para as pessoas que querem e precisam da assistência do projeto, como ocorrem as inscrições? E os processos de divulgação?
Transvest: Em resumo, existe um momento em que as inscrições são abertas, geralmente no início do ano, nesse mesmo momento, nós vamos até os puteiros de Belo Horizonte e Região Metropolitana e panfletamos informando sobre o curso. Além disso, nós abrimos na nossa página um formulário de inscrição para quem tiver interesse. Os professores e os demais auxiliares das oficinas são voluntariados.
Evoé: Para vocês que lidam com a realidade de pessoas trans e travestis, não somente em Janeiro, mas todos os dias. Qual a pauta mais urgente da população trans brasileira?
Transvest: Acreditamos que a pauta mais importante, no geral, é a educação. Até mesmo por isso, esse é o viés da Ong, a gente não muda nada se não for pela educação, seja essa a educação padrão ou a educação social que adquirimos ao longo do tempo. A Tranvest trabalha para que as travestis possam estar em todos os lugares, somente com a educação isso será possível. E claro, oportunidades.
Evoé: A idealizadora da ONG, a Duda Salabert, foi eleita vereadora de Belo Horizonte, para a Transvest e também para a visibilidade trans, qual o impacto disso?
Transvest: Para a Transvest isso não tem um impacto tão grande quanto parece, afinal, a Duda separa as duas coisas. Mas em questão de visibilidade, o impacto é enorme, além disso, durante o mandato, existem planos de trabalhar com pessoas travestis para abrir oportunidades em mercados que são ainda mais fechados para a comunidade. Posto que o ponto mais importante disso é emplacar políticas públicas.
Novos planos Transvest
Evoé: E esse ano de 2021 traz novos planos para a Transvest?
Transvest: Nesse ano, o nosso maior objetivo é conseguir engajar mais as contribuições feitas para que a gente consiga alugar um espaço para ser uma sede onde pudéssemos realizar aulas, atendimentos médicos e psicológicos, oficinas e tudo que pudesse agregar. Primeiramente, a nossa ideia principal e vontade, é criar um Bar Transvest para ser gerido pelas próprias meninas que fazem parte da ONG.
Posto isso, existem outras demandas que ainda precisamos abraçar como assistências médicas e odontológicas, acessar locais como penitenciárias para realizar escutas terapêuticas em presídios e muito mais.
Para colaborar com a Transvest é bem simples, basta clicar no – LINK – e fazer seu apoio! Seguimos juntes!
A Casa Aurora, localizada em Salvador – BA, é uma casa de acolhimento para jovens LGBTQIA+ entre 18 a 29 anos de idade que se encontram em situação de extrema vulnerabilidade.
Conversamos com um dos coordenadores da casa, João Hugo @oxejoaohugo que é um homem trans, negro e ativista. João é graduando em Comunicação pela Universidade Federa da Bahia e Membro do Comitê Técnico de Saúde da População LGBT.
A Casa Aurora além de acolher, também prepara de diversas formas esse jovens para garantirem uma oportunidade e melhorar a qualidade de suas vidas.
Acolhimento e visibilidade trans
Vem conferir um pouco do nosso bate papo e conhecer a Casa!
Evoé: Como surgiu a ideia de fundar a Casa Aurora?
Casa Aurora: A Aurora surgiu da necessidade abrigar. Antes de abrir ao público em situação de vulnerabilidade, Sellena e eu abríamos nosso apartamento para amigos que visitavam Salvador, amigos de amigos e existia uma ajuda de custo na maioria das vezes. Nesse processo todo, nós percebemos uma alta demanda de pessoas que precisavam dessa acolhimento e fomos desenvolvendo o projeto.
Evoé: E como funcionam os suportes que a Aurora recebe?
Casa Aurora: Hoje além da Evoé e algumas doações pontuais, nós temos suporte político de um deputado que arca com o nosso aluguel. Apesar de a Aurora ser um espaço apartidário, nós temos esse deputado como um co-fundador que abraçou o projeto desde o primeiro momento.
Evoé: Quais são as atividades que a Aurora propõe para quem é acolhido?
Casa Aurora: Dentro da casa existe um acompanhamento psicológico gratuito, antes ocorria por valor social, mas devido a pandemia resolvemos cortar o valor. Isso acontece de forma mais eficaz e online, para que pessoas do interior do estado também possam ter acesso e desenvolvemos atividades socioculturais, oficinas de currículo, oficinas artesanais.
O funcionamento da Casa Aurora e a visibilidade trans
Evoé: Quando alguém procura vocês precisando do acolhimento da casa, vocês tem algum pré-requisito pro acolhimento? Vocês analisam cada caso?
Casa Aurora: Sim, nós temos uma triagem de abrigamento, pois ocorre de algumas pessoas pedirem abrigamento mas pelos motivos errados. Aqui a pessoa passa pelo acompanhamento psicológico, existe um acompanhamento e uma sondagem da situação, já que o abrigo é temporário. Outro ponto é que existem regras que precisam ser cumpridas.
Evoé: As pessoas que chegam até vocês em uma situação real de vulnerabilidade costumam carregar traumas e receios. Como ocorre o processo de adaptação dessas pessoas na casa?
Casa Aurora: Isso é muito gradual, as pessoas já chegam e sabem que aquele é um lugar seguro. Nós costumamos pedir para que não comentem muito sobre o que aconteceu para que elas estejam na Aurora para evitar gatilhos, já que existe um acompanhamento justamente para isso. Mas é claro que essas pessoas conversam, mas isso ocorre quando entendem que estar na Aurora é mais seguro que estar lá fora.
Estar na Aurora é um processo de cura e de cuidado com a estima. Aos poucos as coisas vão cicatrizando.
João Hugo, Casa Aurora, 2021
A visibilidade trans e a rotina
Evoé: Hoje, os espaços de convivência ainda excluem severamente as pessoas trans e travestis. Para vocês que trabalham com oficinas inclusivas, qual é o passo mais importante que a sociedade precisa dar para mudar essa realidade?
Casa Aurora: São dois caminhos muito importantes: Educação e Emprego. As pessoas começam a terem mais autonomia quando elas alcançam um nível maior de escolaridade e quando conseguem um emprego onde podem se sentir seguros e confortáveis. No momento em que pessoas trans alcançam esses lugares, conseguimos começar a mudar as coisas.
Evoé: Vocês realizam trabalhos fora do ambiente da Aurora? Em formatos de palestras, eventos informativos, etc?
Casa Aurora: Sim, nós vamos até algumas empresas ou algumas empresas vem até nós para procurar informações sobre gênero e sexualidade. Em contrapartida, essas empresas e estabelecimentos fazem doações de algo que estejamos precisando. Também sugerimos a contratação de pessoas LGBTQIA+, principalmente pessoas trans.
A saúde da população trans
Evoé: João, você como parte do comitê técnico de saúde da população LGBTQIA+ da Bahia, o que é preciso para que profissionais da saúde comecem a falar mais sobre saúde e gênero de forma inclusiva?
Casa Aurora: O maior problema de saúde que a população trans e travesti enfrenta é sempre ser colocado dentro da “pasta” do HIV e IST. É preciso mudar a lógica desses profissionais de saúde, coisa que já fazemos, mas ainda não é o suficiente. Mas é preciso começar a falar da existência de corpos trans desde a formação de um profissional da saúde. Existem corpos para além da cisgeneridade.
Evoé: Qual a pauta mais urgente da população trans brasileira?
Casa Aurora: Sem dúvida, empregabilidade. A gente precisa comer, a gente precisa vestir, a gente precisa morar, hormonizar, se manter e estar vivo. Então quando surge uma oportunidade de um emprego formal que nos garante segurança, a gente vai agarrar.
Para apoiar a Casa Aurora é bem fácil, basta clicar no – LINK – e fazer sua contribuição.
Coletivo radical, anticapitalista, vegano, queer e feminista para acolhimento LGBTQIA+, com sede no bairro do Flamengo, cidade do Rio de Janeiro.
Em resumo, a CasaNem é onde transexuais, travestis e trangêneros encontram acolhimento e apoio. Administrada somente por pessoas trans, a casa ajuda no resgate da autoestima de quem é alvo constante de preconceito e rejeição e trabalha em prol da visibilidade trans.
Só para ilustrar, a casa atua na luta para garantir direitos mínimos, sendo assim, um local onde muita gente encontra motivos para seguir em frente com liberdade de ser quem é!
O projeto realiza diversas atividades e oficinas voltadas para o empoderamento LGBTQIA+, autonomia, cultura e visibilidade trans.
Para contribuir com a CasaNem você pode clicar no – LINK – e fazer o seu apoio.
Em primeiro lugar, a Somos – Comunicação, Saúde e Sexualidade é uma organização não-governamental com sede em Porto Alegre (RS), idealizada e fundada em 2001 por militantes das áreas de luta contra o HIV/AIDS e do Movimento LGBTQIA+.
Atualmente a iniciativa promove o projeto #BoraSaber que é realizado por jovens LGBTQIA+, com o efeito de ampliar o acesso à saúde com informações sobre prevenção de ISTs, sexualidade, direitos e testagem de HIV entre pares.
O projeto realiza ações transdisciplinares com base nos Direitos Humanos e ênfase em direitos sexuais e direitos reprodutivos, a partir da articulação das áreas de educação, saúde, comunicação, segurança pública e arte.
A iniciativa trabalha por uma sociedade plural por meio da afirmação de direitos.
Para apoiar o SOMOS é bem simples, você pode acessar o – LINK – e fazer sua contribuição.
Janeiro é o mês da visibilidade trans, mas..
Em suma, mesmo que Janeiro seja o mês da visibilidade trans e travesti, e dia 29 o dia correto, essas pautas precisam ser discutidas todos os dias.
A vida acontece todos os dias, e por falta de informação e respeito, levar a vida se torna mais difícil para essas pessoas.
Nesse sentido, é importante que você consuma, contrate, aprecie e dê oportunidades para que pessoas trans e travestis vivam uma vida sendo quem são.
Por fim, para conferir de perto os conteúdos incríveis aqui da Evoé, fica de olho no nosso Instagram! @evoe.cc Fechou?
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Esperamos que vocês tenham gostado! Até o próximo post!
Publicado por Mariana Almeida
Graduanda em Letras pela UFMG, sempre gostou de linguagens e edição textual. Mariana além de apaixonada por literatura e arte, também ama estudar outras culturas e línguas. Na @evoe.cc Mariana é responsável pela Comunicação e Marketing
@thisblueneighbour