O mês da Consciência Negra não é à toa: ainda há quem ache que racismo não existe. Porém, os dados não mostram outra coisa – mesmo sendo 54% da população, negros recebem salários menores que brancos, estão menos presentes nas universidades, na política e também em empregos mais qualificados. Mas, e na cultura – existe racismo na cultura?
Novamente, os dados confirmam essa triste realidade – desde a aparição de negros em programas televisivos, até a distribuição de filmes, há um grande abismo que os separa dos brancos. Além disso, o conteúdo das produções culturais tem sido muito discutido – onde está a tradição e a arte afro-brasileira?
Quer entender melhor essa discussão? Nós ajudaremos com dados, conceitos e vários exemplos de transformação! Confira o post!
Antes de discutirmos, vamos entender melhor o que é cada coisa. A discriminação racial é clara para muita gente: xingamentos, associação com animais ou perseguição e restrições devido à fisionomia. O preconceito racial, todavia, é mais difuso: estereótipos, julgamentos e generalizações. Essas são as duas faces da mesma moeda – do racismo, que se apoiam uma na outra.
Vamos com calma: o que são essas generalizações? Elas são suposições que um comportamento ou atributo (como inteligência ou calma) de uma pessoa é determinado pela sua raça. Nem sempre essa ideia é má intencionada; porém, quase sempre ela tende a se tornar discriminação.
Isso se torna mais claro quando analisamos como isso ocorre quando o assunto é mídia e cultura. Siga a leitura para entender melhor!
Como o preconceito racial é alimentado pelos estereótipos e generalizações, as representações das raças na cultura têm grande impacto. Por exemplo, imagine que uma raça sempre seja retratada como subalterna ou criminosa; com o tempo, isso passa a participar do seu estereótipo. As pessoas dessa raça poderão ser discriminadas, sejam elas assim ou não.
Por isso, quem produz essas representações tem uma grande responsabilidade. Quando um grupo étnico não participa da criação, o risco de preconceitos é maior. Afinal, são outras pessoas falando sobre sua vida, seus sofrimentos e tradições.
Com a população negra no Brasil, essa situação é uma realidade vivida diariamente. Combater o racismo é ter olhos também para essas situações, muitas vezes discretas – e passar isso vem a Consciência Negra. Confira mais a seguir!
O mês da Consciência Negra pede que nós estejamos atentos para o desapercebido: a ausência de negros como protagonistas, seja em filmes, novelas, telejornais ou enquanto autores. Isso não é trivial, mas sim fruto de séculos de desigualdade – o que é lógico, pois como teremos jornalistas negros se as universidades são quase inteiramente de pessoas brancas?
Por isso, estar consciente de quem e o que se vê na cultura é, também, uma forma de combater o racismo. Por exemplo: você sabia que os negros correspondem a só 5% de quem aparece na TV? Ou que o conteúdo relacionado à cultura negra é apenas 0,9% da programação pública?
Percebe-se assim como não há preocupação com a participação de 54% da população na cultura aberta. E isso tem nome: etnocentrismo ou racismo cultural. Entenda melhor adiante!
Vendo filmes, assistindo séries ou até lendo um livro: encontramos um mundo onde quase todos são brancos, vivem entre a classe média, são escolarizados e não falam gírias. Isso tudo pode ser ficção, inclusive para a metade da população brasileira (negra) que está ausente nessas histórias. Quando não ausente, é comum se tornar criminoso ou faxineira.
Mas e a arte afro-brasileira, tão festejada no Brasil e exterior? Além dos clássicos, a cultura afro-brasileira contemporânea também existe – ainda que, quase sempre, vista como mera expressão da favela, de quem não teve acesso à cultura real. O nome dessa exclusão é etnocentrismo: quando uma etnia só é reconhecida.
O racismo cultural é seu produto direto: afinal, como negros são menos escolarizados, a sua cultura é pior – essa é a definição desse racismo. Em qualquer cultura há riqueza – seja o funk, o hip-hop ou a ópera –, o que é necessário é saber reconhecê-la.
Se o problema é o etnocentrismo naturalizado que ignora a cultura negra afro-brasileira, você pode se perguntar onde encontrá-la. Muitos grupos de resgate e divulgação da arte negra afro-brasileira se estabeleceram – e sobrevivem, a despeito do desinteresse da grande mídia. Mas que tal conhecer os artistas independentes que tocam essa luta?
Na Evoé, o crowdfunding serve à cultura negra se aliando a projetos incríveis. O Centro Cultural Lamparina é um desses projetos de luta, independência e presença negra. Sob os cuidados do capoeirista, educador e ativista Negoativo, há 30 anos o Centro leva ações de arte negra para sua comunidade. Exemplos dessas ações são as aulas de capoeira e o bloco Afro Porto de Minas.
Sensacional também é o Lá da Favelinha, projeto que por sua vez valoriza a cultura afro-brasileira contemporânea – principalmente o hip-hop e dança, com os passinhos do funk. Nascido do rap, esse projeto leva o empreendedorismo social à sua comunidade por meio da arte negra. Um dos seus integrantes, o capoeirista e músico Marquim D’ Morais, fala da cultura da favela em suas músicas.
O racismo é um perigo que perpassa toda a sociedades, escondido nas brechas da cultura. Como os demais males à democracia, ele se disfarça como algo que só atinge os direitos de um grupo; no entanto, é um dever de todos lutar contra esse que é um atentado aos direitos humanos gerais!
No mês da Consciência Negra, aprendemos que não é necessário sentir na pele para se solidarizar. Participe: colabore nessa luta apoiando o Centro Cultural Lamparina e o Lá da Favelinha!
Já conhece a Evoé? Entre aqui e saiba mais sobre financiamento coletivo.