Anitta, Daniela Mercury e Katy Perry – o que elas têm em comum? Além de serem popstars, elas foram acusadas de apropriação cultural. Mesmo você pode ter passado por essa polêmica: turbantes, dreads, tranças ou fantasias étnica estão presentes no seu look?
Usando ou não os símbolos de outra cultura, o que vestimos ou consumimos pode ser um ato político. Mas como saber o que vem de outra cultura? É ruim que haja trocas entre culturas? Afinal, apropriação cultural existe – e se existir, é boa ou má?
Entenda de uma vez por todas essa polêmica lendo este post, com pontos de vista de todos os lados e ângulos!
Para entender a apropriação cultural, precisamos entender como alguém consegue se apropriar da cultura. Aposto que você nunca ouviu falar de um “assaltante de cultura” – como seria isso? “Passa aí sua literatura”? Como isso é possível se a religião, a poesia e outras coisas mais são imateriais?
A cultura é igualmente material e imaterial; por isso é muito difícil imaginar alguém a “roubando”. Porém, há casos disso na história – por exemplo, as obras arquitetônicas do Egito Antigo presentes em museus da Europa. Além disso, algumas manifestações culturais são consideradas “superiores” e ganham mais divulgação – como os filmes de Hollywood.
Nas discussões sobre a cultura, a apropriação e a indústria cultural, o contexto dessas trocas (ou roubos) é muito importante. No caso das obras do Egito Antigo, os museus surfam na fama da cultura de outro povo; vez ou outra isso acontece em outros campos – como no caso da Katy Perry, que lucrou com o estilo e cultura dos negros estadunidenses.
Mas, por que não misturar? Os outros povos não deveriam se sentir homenageados, ao invés de ressentidos? Siga a leitura e entenda melhor!
Se você usa turbante e não é afrodescendente, alguém pode vir te avisar que isso é mais que moda: é uma expressão cara às religiões afro-brasileiras e à luta antirracista. Seria normal perguntar qual o problema; uma resposta seria: os negros sofreram séculos de repressão para poder usar a roupa que quiserem, crer na religião que acreditarem, dançar ao som que amarem, etc.
Por mais que você não seja o responsável pela repressão, você teve o privilégio de ser livre sem mazelas; e nem todos têm esse privilégio. Assim, quando uma pessoa consome algo de uma cultura marginalizada sem sofrer a marginalização, é como se aproveitasse da situação. Vários militantes negros apontam que modelos não-negros são aplaudidos, enquanto os negros quase não existem.
Alguns militantes dizem que não há problemas nas escolhas individuais – alguém não-negro usar dread, diríamos. O verdadeiro mal está na sociedade e na grande indústria cultural, que têm racismo institucional – aprovam os não-negros que consomem esta cultura, mas criticam, exotificam e prejulgam os negros.
No final das contas, o que é apropriação cultural? Está errado usar turbante ou a culpa é do sistema? Veja a seguir a resposta para essas dúvidas e outras mais ainda!
Apropriação cultural é consumir ou explorar com benefício próprio a cultura de um povo marginalizado; essa é a definição mais aceita entre os que a defendem. Ela está presente quando criticam personalidades brancas por usarem adereços indígenas, arte negra ou tradições asiáticas (entre outras) a seu favor, ignorando os produtores dessas etnias.
Geralmente, elas surgem quando as pessoas de fora do povo/ etnia resolvem “se diferenciar” – “fantasiando” de outra etnia, escolhendo looks exóticos ou explorando um “produto inédito”. Isso pode acontecer no carnaval (a “nega maluca”) ou no stand-up (o “black face”). A intenção pode ser boa, mas o que a motivou nem sempre é: considerar uma etnia “exótica”, “cômica” ou “inferior”.
Normalmente as críticas à ideia de apropriação cultural estão ligadas à definição de cultura. Muitos falam que o turbante não tem origem negra, por exemplo. Como a cultura é fortemente imaterial, os argumentos em torno das origens em geral caem por terra – o que, por sua vez, não muda ou invalida o contexto em que determinadas manifestações culturais acontecem.
Ainda que o turbante ou os dreads não tenham origem negra, no Brasil eles certamente tem um nicho: a população negra. Eles foram ou primeiramente usados por negros, ou mais massivamente. No dia a dia, isso faz com que eles carreguem muitos significados – quem tem estilo hip-hop tem muita chance de ser suspeito para a polícia, assim como os sambistas e capoeiristas nos anos 1930.
No meio desse impasse, é possível encontrar um meio-termo: ao mesmo tempo, uma postura que nem se apropria totalmente de outras culturas, nem impulsiona a apropriação institucional. Quer saber como? Veja a seguir!
Cotidianamente, corremos o risco de transmitir mensagens com os símbolos que carregamos (roupas, tatuagem, gírias etc.), sendo a participação em outra cultura um deles. Um exemplo, meio senso comum, meio lenda urbana, são as tatuagens: alguns desenhos têm significados particulares, como palhaços ou aranhas.
Certamente é incômodo se ver no lugar de um racista. Todavia, nós devemos tentar ver de onde veio a vontade de usar uma roupa “diferente” ou fazer certa piada – onde a ouvimos primeiro, quem a disse e o que quis dizer à época. Isso com certeza permite ver o que os militantes apontam: enquanto uma etnia tem liberdade para ser “exótica”, a outra é ignorada por ser assim vista.
Nós passamos pela cultura, seus produtores e algumas situações entendidas como apropriações. Toda essa discussão levanta uma questão: e o crowdfunding, há apropriação cultural nos seus projetos? Se há, como encontrá-la?
A comunidade que suporta e se beneficia do projeto é a chave para essa questão. O crowdfunding não pode jamais ignorar a multidão (“crowd”) que carrega no nome. Projetos que trabalham com a cultura de povos minoritários devem sempre se voltar para eles, buscando seu apoio e sua participação.
Assim, é possível evitar uma das formas mais cruéis de apropriação cultural: usar as obras e manifestações culturais de um povo sem incluí-lo no processo. Exemplo de como fugir disso é o FITA, festival de cinema que abre espaço para autores ignorados pela “grande mídia”.
A apropriação cultural pode ser muito mais cruel que as discussões na internet. Evitá-la é possível e necessário, sendo se informar bem o primeiro passo para isso. Quer ficar por dentro desse assunto? Cadastre seu e-mail aqui e receba as atualizações do blog, sobre de tudo um pouco e muito mais!
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